A história de João

Não tinha medo, o tal João...
era o que todos diziam quando ele se perdeu

Yellow ledbetter sing along



Ok, com a letra "original"

Unsealed, On a porch a letter sat
Then you said i wanna leave it again
Once I saw her on a beach of weathered sand
And on the sand I wanna leave it again... yeah
On a weekend I wanna wish it all away yeah...
And they called and I said that I want what I said
And then I call out again
And the reason oughta leave her calm I know
I said i dont know whether
Im the boxer or the bag
Ah yeah ehh....
Can you see them, Out on the porch,But they dont wave
I see them round the front way yeah, And I know I dont want to stay...

Make me cry

Ooooh I see, I dont know theres something else
I wanna drum it all away
Oh I said I dont, I dont know whether Im a boxer or the bag
Ah yeah ehh....
Can you see them
Out on the porch
But they dont wave
I see them round the front way yeah
And I know I dont want to stay
I dont wanna stay (2x)
Dont
Dont wanna
Oh... yeah... oooh...
O fundo do poço é um espelho da alma. É onde encaramos os fracassos e conquistamos a calma.

No fundo do poço aceitamos quem somos. É aí, sozinhos, no escuro, que claramente vemos que não conseguimos viver em negação toda a vida. A esperança não está inteiramente perdida.

O fundo do poço é quando nós quisermos. O fundo do poço é quando nos aceitarmos. O fundo do poço é o momento da redenção. O fundo do poço é o momento da inversão.

No fundo do poço a vontade ecoa, a saudade grita, a lágrima flutua, a solidão acompanha, o desejo voa, o tempo pára e a decisão é só tua.

No fundo do poço a verdade é água gelada, que congela o medo e deixa de cara lavada.

Depois do fundo do poço não existe nada. Porque o fundo do poço não existe. Existe é um fundo de coragem que timidamente persiste. Existe um não querer aceitar o destino que se aproxima (existe um escrever de prosa que rima) e existe uma ligeira brisa que empurra, de volta, para cima.

Enlightenment

Hoje vou viver na noção de que amanhã posso morrer.
Hoje vou viver na noção de que amanhã posso não morrer.
Hoje vou viver.

Olá

Deambulava na rua, perdido nos meus pensamentos. De repente, sem motivo aparente, olho directamente na tua direcção. Reparo que, exactamente ao mesmo tempo, olhas para mim.

Atravesso a rua e digo-te:

-Olá.
-Olá?! - respondes.

Peguei-te na mão:

-És a mulher mais linda que já vi, tens a voz mais doce e suave que já ouvi, o teu cheiro está a deixar-me doido e nunca acariciei pele tão macia. A que sabe o teu beijo ?

O Hotel da Califórnia

You can check out any time you want but you can never leave

Eva Cassidy & Katie Melua

As melhores coisas da vida vêm sempre aos pares, excepto tu e eu.

Deus existe

Acaricio a tua mão, ergo-ta sobre os cabelos e deslizo-te com uma pirueta de encontro ao meu peito. Com as pontas dos dedos desbravo caminho por entre o teu cabelo até conseguir, com a palma da mão, encaixar, de uma forma suave mas firme, a tua nuca. Olho-te, ouço o teu corpo a respirar o meu e sentes-me murmurar palavras perfumadas de desejo nos teus doces olhos, breves momentos antes de, sem receio, envolver os meus lábios nos teus.

Desces das pontas dos pés e, por meio momento, sentimo-nos a desfalecer. Sinto a tua pele a aquecer por detrás da roupa. Talvez tenhas calor. Desaperto-te o botão de cima da camisa.

Empurras-me com uma mão contra a cama e, desequilibrado, sento-me nela. A tua expressão muda, libertas um sorriso maroto enquanto iluminas os olhos. Com um movimento de bailarina, descalças um sapato, que voa através do quarto, e com a ponta dos dedos tocas nos meus tornozelos e vais massajando devagar ao trepar pelo meio das minhas pernas. A cada centimetro que avanças vou ficando mais excitado e espantado. Enquanto passas pela minha braguilha sentes a minha respiração parar e páras também. Durante segundos ficas imóvel a fitar-me, imóvel, a fitar-te. Fazes uma pequena pressão em jeito de provocação, piscas um olho e retomas a escalada.

Finalmente, pousas o pé no meu peito e, sem cerimónia, empurras-me para trás e enterro-me na colcha. Saltas para cima da cama de pé e, com uma perna de cada lado da minha barriga, acenas lentamente com a mão um não que me enfeitiça.

Agarro-te os tornozelos, enquanto agarras o próximo botão da camisa, e penso: “Deus existe...”

Carrossel - O carrossel

Questionaste-te acerca de que poderia ser aquele barulho. O som soava a familiar mas era tão distante que era quase impossível de o identificar no meio do som dos pássaros, do som das bicicletas, do som das crianças a brincar, do som dos nossos corações, do som das árvores, do som da água.

Peguei numa pedra e atirei-a à água. A pedra quase que raspou na cabeça de um pato. Quác, grasnou o pato. Chuác, respondeu a pedra. Adoro o barulho que as pedras fazem ao bater com força na água.

-És doido, quase que acertavas no pato.
-Foi ele que me provocou.
-És completamente doido.
-Completamente não. Acho que sou só meio doido ou um bocadinho mais que isso.
-Ah! Então, se és meio doido és só doi. É isso?
-Sim. Sou.
-Doi, - disseste enquanto soltavas uma sonora gargalhada – a partir de agora vou-te chamar de Doi.
-Doi? João Doi?
-Sim.

Acho que sempre o fui mas só não o sabia.

Começamos de novo a caminhar. Enquanto tentava perceber a diferença entre o barulho de calcar uma folha seca amarelada e o barulho de calcar uma folha seca acastanhada, continuavas fixada em tentar distinguir o que poderia ser aquele som que chamou a atenção do teu ouvido direito.

De repente, descobriste! De repente, estatelaste-te no chão.

-Aqui dói?- perguntei ao colocar a mão, por cima da bota, no teu tornozelo.
-Dói.
-E aqui dói?- perguntei ao suavemente esfregar o teu joelho.
-Dói. Ai!
-E aqui dói? - perguntei, ao acariciar com tempo a parte interior da tua coxa.
-Dói, João! Ai, pára!
-Tenho que ver se estás bem. Aqui dói?
-JOÃO, DÓI! Dói em todo o lado. Não viste o tombo que dei?
-Decide-te! João Doi ou João Dói? - e tu riste.
-Isto passa, tá a doer um bocadinho mas já passa, está bem? - disseste mais calma.

Encolhi os ombros e libertei um suspiro. Afinal, foi maior o susto que o prejuízo. Ao ver que estavas bem, castiguei-te com uma palmada no ombro.

-Ai, porque me bateste?
Isto foi por me teres confundido com ele!
-Ele? Ele quem?
-Sei lá. Tu é que sabes quem ele é. Eu não sou ele. Acho que não sou ninguém de especial mas também acho que deverias saber quem não sou. Pelo menos ao ponto de não me confundires co m ele. Eu não sou ele. Eu sou eu.

Definitivamente, não estavas a seguir o meu raciocínio. Expliquei.

-Na estação de metro, já te esqueceste? Confundiste-me com outra pessoa com um casaco igual ao meu. O hábito não faz o monge- concluí, como se a frase fizesse algum sentido no contexto.

Enquanto falavamos e caminhavamos, agora mais devagar acabamos por saír do parque. Ao virar no cruzamento seguinte deparamo-nos com um descampado. Pousada em cima desse descampado, erguia-se uma feira popular ambulante. Dirigiste-te como um relâmpago directa ao carrossel e ficaste boquiaberta de espanto com a sua beleza e tamanho. Segui-te a trote.

-Queres mesmo saber quem sou? - continuei - Para não te confundires outra vez. Segue-me, vou-te dizer. Espero não me vir a arrepender.

Saltei para dentro mesmo com o carrossel em movimento. Tu ficaste a admirar, a ver passar, e a sentir a roda a girar e a ver os coches, os tigres, os galos, os cavalos e outros animais que tais.

Ao fim da volta viste-me a aparecer sentado num cavalo branco com uma sela castanha. Estendi-te a mão. Das colunas ouvia-se a voz que dizia:
-Venha andar no carrossel. Menina bonita não paga... mas também não anda.

Provavelmente ao ver-me estender-te a mão, a voz fez uma pausa de um batimento cardíaco e meio e disse:

Excepto tu cara linda. Sim, tu de camisola preta e mãos esfoladas.Tu podes andar sem pagar. Mas não demores a entrar que o carrossel não vai parar, apenas vai andar um pouco mais devagar até acabares de te sentar.

Fiquei a olhar para ti e comecei a contar os clings, das rodas mecânicas por baixo, que demoravas a tomar a tua decisão. À tua volta um mar de gente que esperava a vez para andar, e outras que tinham acabado de saír pararam e fitaram-te. A voz nas colunas silenciou-se e a música parou. Todos os corações que nos observavam pararam de bater ao mesmo tempo. Os clings deixaram de se ouvir, os pássaros calaram-se,o relógio voltou a parar, o vento amainou e a água parou de correr, todos à espera de ver o que irias fazer...

Menina bonita não paga

Poets of the Fall - Carnival of Rust



D' you breath the name
of your savior in your hour of need
n' taste the blame
if the flavor should remind you of greed
of implication, insinuation and ill will
till' you cannot lie still
in all this turmoil
before red cape and foil
come closing in for a kill

Come feed the rain
cos i'm thirsty for your love
dancing underneath the skies of lust
yea, feed the rain
cos without your love my life
ain't nothing but this carnival of rust

it's all a game, avoiding failure
when true colors will bleed
all in the name of misbehavior
and the things we don't need
i lust for after no disaster can touch
touch us anymore
and more than ever
i hope to never
fall, where enough is not the same it was before

Come feed the rain
cos i'm thirsty for your love
dancing underneath the skies of lust
yea, feed the rain
cos without your love my life
ain't nothing but this carnival of rust

Don't walk away, don't walk away, oh
when the world is burning
Don't walk away, don't walk away, oh
when the heart is yearning

Carrossel - DeclAmo-te

Os teus olhos emanaram Aquele brilho.

- Não gosto de recitar. E não penses que me ando a alimentar das tuas palavras… – talvez devorar seja a palavra correcta – mas vou tentar.

Ajoelhei o pé esquerdo, estendi a mão na tua direcção, segurei-te pelo pulso e com um deslizar das pontas dos dedos lia palma da tua mão. Sorri-te…

Escalei um banco do jardim, olhei o céu, limpei a garganta e anunciei:

- Damas e cavalheiros, plantas e animais, pedras desgastadas e gotas de orvalho, entes presentes e ausentes, excelentíssimo público. É com extremo deleite que vos vou tentar deliciar com um poema de uma mui guapa jovem aqui presente, - pisquei-te um olho - intitulado “Quem és?”.

Então declamei:

- Hei-de contar-te em todas as palavras
- Hei-de espalhar-te em memórias e ventos
- Hei-de afogar-te em violentas vagas
- Mas vou guardar-te em todos os momentos

- Serás da lua uma chuva de prata
- Do azul do céu serás o infinito
- Em cada ferida és dor que não me mata
- Mas que me arranha a voz a cada grito

- Em cada sorriso vais ser luz
- Cavalo branco e cavaleiro andante
- Véu de mistério que envolve e seduz
- Senhor da minha aura, meu amante

- E se o meu sangue se juntar à terra
- Na escuridão de não saber quem sou
- À solidão vazia ganho a guerra
- Transformarei em sonho o que te dou!

Fiz uma vénia. Voltei a calçar o chão de terra cada vez mais batida após um salto mortal à retaguarda imaginário e encostei-me a ti. Vesti-te o meu braço aos ombros e retomamos de novo o caminho.

Subimos uma ponte velha feita de pedras velhas que pairava sobre um pequeno curso de água em constante renovação. Debruçaste-te sobre aquele conjunto tosco de troncos que serviam de protecção nos lados da ponte. A água ao fundo espelhava o brilho lunar dos teus olhos e o seu ondular fazia serpentear os teus cabelos imóveis. Não resisti e, como quem sacia a sede na água de um rio, em câmara lenta molhei os lábios com um beijo no teu pescoço.

Num ápice, a tua atenção focou-se para a direita ao ouvires algo que despertou a tua curiosidade.

Imagina

Dizem que uma imagem vale mil palavras. Sempre quis saber se o contrário também poderia ser verdade. Poderá uma só palavra transmitir mil imagens? Poderá cada uma dessas imagens valer por outras mil palavras? Imagina...

Carrossel - O poema

-Então temos todo o tempo do mundo.
-E para onde me levas?
-Sei lá! Nem sei bem onde estamos. Não conheço quase nada nesta zona.
-Então porque quiseste combinar encontrarmo-nos aqui?
-Por isso mesmo. Cheira-me a mar.
-Sendo assim, proponho que vamos para a esquerda.

Abri a bolsa e tirei a máquina fotográfica. Adoro fotografar, com ou sem máquina. Um dia quero-te fotografar com máquina. Será que, se pedisse, aceitavas? Serias o meu modelo por, pelo menos, um dia?

Lá fomos, meios perdidos, explorar e a fotografar aquele lugar. Deambulamos por ruas, calçadas e vielas, passamos por fontes, monumentos, igrejas e estátuas e outras coisas únicas. Só te conseguia ver a ti. Tudo não passava de uma desculpa para estar contigo.

Peguei numa pedra que descansava, à sombra, no passeio e comecei a ensaiar malabarismos com ela. Chegamos a um cruzamento, o sinal dos peões estava verde a piscar e a fugir para o vermelho. Aproveitei e dei-te a mão. Atravessamos a rua a correr de mão dada. Larguei-te a mão a custo e continuamos a andar bem devagar. Já do outro lado da rua encontramos a entrada de um jardim. Entramos.

-Às vezes gosto de falar sobre coisas sérias. Sabes, eu no fundo não sou quem pareço ser, é apenas uma máscara...

Tiraste-me a pedra da mão, olhei para ti e vi um sorriso traquina. Atiraste a pedra em jeito que caiu no número 6. Fotografei-te.

-Eu também. - quase gritaste enquanto começavas a pular ao pé coxinho no jogo da macaca que estava esculpido no chão de terra batida. Reparei nas tuas meias, aquelas que gosto tanto. Nem sei bem porquê, acho que simplesmente combinam contigo.

Saltaste com a cadência de anos de experiência de menina até ao fim e voltaste-te a saltar para regressar. Senti uma vontade súbita de te beijar. Debruçaste-te para apanhar a pedra e o decote, apesar de fechado, denunciou a gravidade. Não, definitivamente não trazias sutiã.

Mudei outra vez o assunto.

-Escrevi-te um poema.
-Sim? Mas tu nem gostas de escrever.
-Demorei umas horas confesso. Quis experimentar exprimir em palavras o que sentia.
-Muito bem. Posso ler?
-Acho que sim. Escrevi-o para ti. - procurei os muitos bolsos espalhados pela roupa à procura daquele pedaço de guardanapo de papel fino e amarrotado em que rabisquei O poema.

Guardei a máquina na bolsa. Neste bolso, o telemóvel. Não. Neste bolso, a carteira. Não. Neste bolso, as chaves e moedas. Não. Neste bolso, uma fotografia nossa, de um feriado festejado juntos à muito tempo. Ups, pensava que a tinha guardado noutro sítio. Não. Lançaste-me Aquele olhar. Neste bolso, um ror de papeis amarrotados. Não, não, não, não e não. Já sei! Guardei no bolso de trás das calças, onde não costumo guardar nada, para não me esquecer! Eis-lo.

Peguei no papel com cuidado, desdobrei-o, li-o outra vez para mim e dei-to para a mão.

Encostaste-te a mim, tremi. Seguraste o papel com uma mão enquanto a outra segurava a pedra. Estava todo escrito e riscado por cima, prova de que não tinha saído bem á primeira. No papel apenas estava escrito, em caligrafia de máquina:

INSPIRAS-ME.

- Gostas?

Uma pausa numa canção

Os teus seios são dois pores do sol
Perenes, onde me deito e onde medito.
São magia branca, tontura, são álcool.
São a loucura que cometo e que repito.

Os teus seios são um par de horizontes
Longínquos, onde o tempo perdido vadia.
São frescos, são verdes, dois montes.
São um suspiro de alívio ao fim do dia.

Os teus seios são uma pausa numa canção.
Improvisada, sem letra, cantada sem solfejo.
São luxúria, são vontade, são tentação,
E são tesão... em cada vez que te vejo.

Carrossel - Amanhã já é hoje

- Amanhã já é hoje ! - brincaste em tom provocatório enquanto ele se virava. Mas, afinal, ele não era Ele, era outro, mas não Ele. Que pena, parecia que querias tanto que fosse Ele. Ele, que não era Ele, parecia surpreendido.

É que Ele era eu e eu estava já à 10 minutos a te observar à distância. Sei que não gostas de te sentir observada, por isso assim é mais fácil o fazer, sem que o notes. 10 minutos a contemplar-te a contemplares o mundo à tua volta. 10 minutos a imaginar-te sem roupa. 10 minutos a notar que tens mesmo umas mão irrequietas que, ora ajeitam o cabelo, ora revistam outra vez a carteira à procura de qualquer coisa que nem precisas. 10 minutos comparar-te com a tua sombra. 10 minutos a tentar adivinhar qual o teu próximo gesto. 10 minutos que souberam a muito pouco.

A confusão era facilmente desculpável. A altura estava certa, o casaco comprido era igual, a semelhança de costas era enorme, provavelmente a vontade do reencontro era maior.


- Desculpe! Confundi-o com Ele, desculpe, com outra pessoa.

- É pena, – lamentou ele, suspirando, enquanto te olhava de cima a baixo– não me importava de ser quem procura.

Ri-me entredentes e pensei: o preto fica-lhe tão bem. Especialmente com aqueles lábios que cada vez mais vermelhos. A camisola pousa na perfeição na tua pele. Acho que não trazes sutiã. Será que vens sem roupa interior? Tentei evitar pensar mais nisso, as calças estavam justas.

Avancei.

- Esta menina está a incomodá-lo? - disse eu por trás de ti. Percebi um pequeno arrepio percorrer-te a coluna vertebral mesmo antes de encostar a palma da mão nas tuas costas e te fazer uma pequena carícia com o polegar.

- Gosto do seu casaco- gracejei.

Olhaste para mim e coraste mais um bocadinho. Gosto quando coras. Suavemente castigaste-me com as costas da mão na perna. Segurei-te pelo braço e ao afastarmo-nos para fora da estação perguntei-te ao ouvido:

- Amanhã já é hoje?

Carrossel - O tacto

Pediu-me para tirar a roupa, ainda pensei em pedir para a tirar ela, mas isso seria demasiado íntimo. Olhei-a fixamente, durante centésimas de segundo, e fotografei aquele olhar. Espero que ela não tenha reparado no flash dos meus olhos. Deitei-me de costas, fechei os olhos e abri o meu novo álbum de uma só fotografia.

Todo o stress acumulado desapareceu ao primeiro toque. À medida que as pontas dos seus dedos começavam a ecoar na minha pele, senti uma dormência apoderar-se de mim. Senti-la aproximar pelo intensificar daquele aroma doce e selvagem emanado por todo o seu corpo. Um vento húmido, acompanhado de um murmúrio, invadiu o meu ouvido. Discretamente entrelaçou os dedos pelo meio do meus enquanto os puxava até sentir as falanges estalarem. Tirei mais uma fotografia.

Folheei aquele álbum vezes e vezes sem conta, devagar. Sussurrou-me ao ouvido: Amanhã viras-te de frente! De uma vez, rodei-me, sentei-me e a ela no meu colo, desequilibrou-se e tentou em vão agarrar-se às minhas costas completamente escorregadias. Tentava recuperar o fôlego, abracei-a e com uma mão segurei-lhe as costas e com a outra a nuca enquanto ela caía para trás e amorteci-lhe a queda.

Debruçado sobre ela, anca com anca, agarrei com força, mas sem magoar, os cabelos, depois de lhe afagar brevemente a cabeça, fixei o olhar, tirei uma última fotografia e, com os meus lábios rijos quase a roçar os lábios húmidos dela, disse: Combinado!